"Você matou meu filho" e outros gritos [recurso eletrônico] : um estudo das formas da denúncia
Rogério Luid Modesto dos Santos
TESE
Português
T/UNICAMP M72v
["You killed my son" and other cries]
Campinas, SP : [s.n.], 2018.
1 recurso online (244 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientador: Suzy Maria Lagazzi
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem
Resumo: Nesta tese, busco compreender o funcionamento discursivo da denúncia nas fronteiras do social. Isso significa que meu foco recai sobre o acontecimento de denúncias em condições de produção diferentes das do aparelho jurídico formal de nossa formação social capitalista. Trata-se, desse modo,...
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Resumo: Nesta tese, busco compreender o funcionamento discursivo da denúncia nas fronteiras do social. Isso significa que meu foco recai sobre o acontecimento de denúncias em condições de produção diferentes das do aparelho jurídico formal de nossa formação social capitalista. Trata-se, desse modo, de analisar a denúncia como desdobramento de práticas sociais que textualizam as tensões produzidas nas relações sociais que são sustentadas na evidência do antagonismo. Essas práticas são possíveis em razão do modo como os sujeitos-de-direito são interpelados de maneira a entender a denúncia como transparente e inequívoca. Compreendo, então, a denúncia como uma discursividade que se desenvolve no social, materializando-se em diferentes formas. A partir disso, proponho o conceito de formas da denúncia para dar visibilidade a um funcionamento discursivo que não se restringe ao domínio do discurso jurídico (domínio em que a denúncia é um instituto do direito penal, uma formalidade processual), mas que acontece em diferentes formas materiais. Ao propor a noção de formas da denúncia, recorro à noção de forma material tanto porque ela permite romper com a separação forma e conteúdo, quanto porque ela possibilita uma abertura de compreensão em que o jurídico (enquanto aparelho localizado formalmente) dá lugar ao juridismo (funcionamento social da compreensão jurídica). Essa dupla permissão, de um ponto de vista prático-analítico, se traduz no fato de que a denúncia não poderá jamais ser restrita a um documento cujos conteúdos devem ser esquematizados, porque, em seu funcionamento difuso no social, ela acontece pelo equívoco do qual se originam variadas possibilidades de enunciação e textualização. Além disso, traduz-se também na possibilidade de compreender os gestos de linguagem de maneira ampla não reduzindo a denúncia ao ato de linguagem de atribuição de culpa já que outros gestos podem dar a ver o seu funcionamento discursivo. A reflexão que produzo na tese é possibilitada pela mobilização de um arquivo composto por quatro materiais específicos, a saber: i) o Relatório da Anistia Internacional do Brasil de 2015; ii) o livro Auto de resistência: relatos de familiares de vítimas da violência armada; iii) o documentário Menino Joel; e iv) o filme brasileiro Ó paí, ó!. A partir desse arquivo, empreendo três grandes gestos analíticos. No primeiro, produzo uma escuta de diferentes testemunhos de mães, mulheres negras, moradoras de periferias que denunciam os assassinatos de jovens negros de periferia cometidos pela polícia militar brasileira. No segundo, considero a configuração da figura discursiva do porta-voz, pois os testemunhos analisados desse arquivo estão em circulação em virtude do trabalho dessa figura. Por fim, trago diferentes materialidades significantes para dar consequência ao fato de que a denúncia se textualiza por diferentes gestos, diferentes formas materiais. Nos dois primeiros gestos analíticos, empenho-me em compreender o funcionamento da denúncia no batimento que se dá nas diferentes possibilidades de relação entre um eu-nós e um eles. No último, trago à baila a evidência da denúncia sendo materializada em cenas prototípicas, bem como chamo atenção para a materialidade significante vocal como disponível aos sentidos produzidos pelo discurso da denúncia
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Abstract: In this thesis, I seek to understand the denunciation¿s discursive functioning at the social frontiers. That means that my focus is on the event of the denunciation in different production conditions of the formal legal apparatus of our capitalist social formation. In this way, it is a...
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Abstract: In this thesis, I seek to understand the denunciation¿s discursive functioning at the social frontiers. That means that my focus is on the event of the denunciation in different production conditions of the formal legal apparatus of our capitalist social formation. In this way, it is a question of analyzing denunciation as an unfolding of social practices that textualize the tensions produced in social relations that are sustained by the evidence of antagonism. These practices are possible due to the way in which the legal subjects are interpellated to understand the denunciation as transparent and unequivocal. I understand the denunciation as a discursivity that develops in the social life, materializing in different forms. From this, I propose the concept of forms of denunciation for the purpose in order to a discursive functioning that is not restricted to the domain of legal discourse (a scope where the denunciation is an institute of criminal law, a procedural formality), but happens in different material forms. In proposing the notion of forms of denunciation, I resort to the notion of material from, both because it allows to break with the form and content separation, and because it allows an opening to understand in which the juridical (as formally located apparatus) gives rise to "juridism" (social functioning of legal understanding). This double permission, from a practical-analytical point of view, is translated into the fact that denunciation can never be restricted to a document whose contents must be schematized, because, in its diffuse functioning in the social, it happens through the misconception from which different possibilities of enunciation and textualization originate. In addition, it also translates into the possibility of comprehending language gestures in a broad way, not reducing the denunciation to the act of language attribution of guilt because other gestures can help see its discursive functioning. The reflection that I produce in the thesis is made possible by the mobilization of an archive composed of four specific materials: i) the Relatório da Anistia Internacional do Brasil de 2015; ii) the book Auto de resistência: relatos de familiares de vítimas da violência armada; iii) the documentary Menino Joel; and iv) the Brazilian movie Ó paí, ó!. From this archive, I undertake three major analytical gestures. In the first onde, I produce a hearing of different testimonies of mothers, black women living in outskirts who denounce the murders of young black people from the outskirts committed by the Brazilian military police. In the second, I consider the configuration of the discursive figure of the spokesperson, since the analyzed testimonials of this archive are in circulation because of the work of this figure. Finally, I bring different significant materialities to give consequence to the fact that the denunciation is textualized by different gestures, different material forms. In the first two analytical gestures, I seek to understand the functioning of denunciation in the approach given on the different possibilities of relationship between a me-us and a they. In the latter, I bring to light the evidence of denunciation being embodied in prototypical scenes, as well as I call attention to significant vocal materiality as available to the senses produced by denunciation discourse
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Requisitos do sistema: Software para leitura de arquivo em PDF
Lagazzi, Suzy Maria, 1960-
Orientador
Zoppi-Fontana, Mónica, 1961-
Avaliador
Souza, Pedro de, 1981-
Avaliador
Fedatto, Carolina Padilha, 1983-
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Barbosa Filho, Fábio Ramos, 1987-
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Rogério Luid Modesto dos Santos
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