Resumo: No sertão do Brasil central, morada de berço d'água, árvores tortas e medicinais, onde a poeira benze e o fogo faz renascer sua flora e fauna, existe um universo criado e mantido por mãos femininas. Um mundo de várias. Um mundo de linhas. Numa tecedura que atravessa como uma polifonia. Equipotência. Harmonia melódica das linhas. Linhas melódicas harmônicas. E nas linhas, fiações, tecelagens e bordados do sertão adentro dos Gerais, uma trama de narrativas femininas permeada por cantorias, musicalidade. Um modo de (re)existir como mulheres cerratenses. Sensibilizada, particularmente, pela musicalidade própria da cultura popular da região do cerrado, saí em busca das fiandeiras, tecelãs e bordadeiras do Vale do Rio Urucuia, região noroeste de Minas Gerais, para realizar uma pesquisa e criação em dança movida pela possibilidade de relação dialógica entre a dança e o canto a partir das noções de "campo vivido" e de "poetnografias dançadas" (SILVA; LIMA 2014) que resultaria no trabalho cênico Mulheres de Linhas. Relação essa instigada, num primeiro momento, pelo hibridismo entre as artes dentro do universo de nossa cultura popular e por essa "outra voz", na perspectiva dialógica e polifônica bakhtiniana (BAKHTIN, 2003), esse canto que aparecia então como voz equipotente com a dança, num diálogo dentro do enunciado artístico.A partir dos relatos e reflexões de uma travessia particular de pesquisa e criação cênica em dança, onde cantei, caminhei, dancei, fiei, bordei, teci, escrevi, vivi no encontro com essas mulheres das treze comunidades/vilas do Vale do Rio Urucuia que percorri, quase todas a pé, a presente dissertação de mestrado em artes da cena traz o entendimento e a tecedura de uma possível relação entre a dança e o canto em um processo de criação que estabelece como princípio de construção dramatúrgica o "campo vivido" sob a luz dos conceitos bakhtinianos sobre dialogia e polifonia Ver menos

Abstract: In the scrublands of Gerais, amid crooked trees, flowery Ipês and airborne dust, there is a female universe of threads created and maintained by the hands of women of various ages. World of many hands. World of threads. Women of threads who, in spinning, weaving, and embroiderers, with their landscapes, webs, circles, needles and looms, their songs, create living entanglements in the form of female narratives and hand movements. In this place of experience, are at work folk wisdom and poetics which can be approached as devices for creating dance. Sensitized, particularly, by the mu-sicality of cerrado popular culture, I went in search of spinners, weavers and embroiderers Valley of Urucuia River, northwest Minas Gerais 's region, to conduct a research and creation in dance by the possibility of dialogic relationship between dance and song from the "field lived" and "danced poe-thnography" (SILVA; LIMA 2014) would result in the scenic work Women's threads.Relationship that instigated, at first, by the hybridity of the arts within the popular culture universe and that "o-ther voice", the dialogic and polyphonic perspective Bakhtin (Bakhtin, 2003), that corner which then appeared as equipotent voice with dance, a dialogue within the artistic statement.From the reports and reflections of a particular crossing research and scenic creation in dance, where I sang, walked, danced, spun, stitched, woven, wrote, lived in the encounter with these women of thirteen communities of Urucuia Valley River scoured, almost all on foot, this dissertation on the scene of the arts brings understanding and weaving of a possible relationship between the dancing and sin-ging in a creative process that establishes the principle of dramaturgical construction the "field lived" under the light of Bakhtin concepts of dialogism and polyphony Ver menos