Resumo: O trabalho em equipe ganhou destaque na década de 1990, no Brasil, no contexto da implantação do Sistema Único de Saúde e na construção de um modelo assistencial pautado nos princípios da equidade, integralidade e universalidade. Desde então, o trabalho em equipe vem sendo amplamente debatido e considerado uma diretriz para a atuação na área da saúde, sobretudo nos campos da Saúde Coletiva, Atenção Primária à Saúde (APS) e Saúde Mental, como um dos dispositivos utilizados para a organização do trabalho sob o viés da colaboração interprofissional. Partindo-se das noções de cogestão e de Espaços Coletivos, esta pesquisa pretendeu analisar o funcionamento das reuniões de equipe em dois serviços da APS e em dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), no município de São Paulo. A partir de uma pesquisa qualitativa apoiada na abordagem hermenêutica crítica e narrativa, realizou-se observação participante com registro em diário de campo, sendo privilegiados os espaços de reunião de equipe das unidades estudadas; foram realizadas, ainda, dentro da proposta de observação participante, 15 entrevistas com atores-chave identificados durante a interação no campo, sendo eles trabalhadores e gerentes. O processo de análise amparou-se na perspectiva hermenêutica, com a construção de núcleos argumentativos, e elaboração de grades interpretativas. A análise dos dados revelou que as reuniões de equipe assumem diferentes formatos, funções e configurações nas unidades de saúde, sendo reconhecidas como importantes dispositivos para o trabalho em saúde. Apesar de serem institucionalmente previstas, apresentam fragilidade de regularidade na APS, o que está relacionado a pressões para o cumprimento de metas de produtividade. Nos CAPS, esse dispositivo mostra-se mais consolidado. As pautas, no geral, abrangem discussão de casos, discussão de processos e fluxos de trabalho e informes/orientações de instâncias superiores de gestão. Na APS, a figura da enfermeira ocupa centralidade para a coordenação das reuniões, tomada de decisão, distribuição de tarefas e na liderança das miniequipes. Já nos CAPS, a referência técnica assume papel preponderante para a tomada de decisão e coordenação das ações referentes aos/às usuários/as. A resolução de conflitos interpessoais é apontada como um dos principais desafios para o trabalho em equipe. As Reuniões de Matriciamento entre equipes de Saúde da Família e Equipe Multiprofissional, bem como entre APS e CAPS centraram-se na discussão e "passagem" de casos, porém outras atividades também derivaram desse espaço com atendimentos e visitas domiciliares compartilhadas entre os serviços. Entende-se que as reuniões de equipe apresentam maiores oportunidades de se constituírem como Espaços Coletivos a partir de alguns ajustes, como a reorganização do número de pessoas, estratégias que favoreçam maior interação, participação e compartilhamento de tarefas e a descentralização/revezamento do papel de coordenação do grupo. As reuniões com predomínio de comunicação informal mostraram-se mais dinâmicas e efetivas, favorecendo maior grau de colaboração interprofissiona Ver menos

Abstract: Teamwork gained prominence in the 1990s in Brazil, in the context of the implementation of the Unified Health System and the construction of a care model based on the principles of equity, integrality and universality. Since then, teamwork has been widely debated and considered a guideline for working in the health area, especially in the fields of Collective Health, Primary Health Care (PHC) and Mental Health, as one of the devices used to organize work through interprofessional collaboration. Based on the notions of co-management and Collective Spaces, this research aimed to analyze the functioning of team meetings in two PHC services and two Psychosocial Care Centers (CAPS) in the city of São Paulo. Based on qualitative research using a critical and narrative hermeneutic approach, participant observation was carried out and recorded in a field diary, with priority given to team meeting spaces at the units studied; in addition, 15 interviews were carried out with key players identified during interaction in the field, including workers and managers. The analysis process was based on a hermeneutic perspective, with the construction of argumentative nuclei and the elaboration of interpretative grids. The data analysis revealed that team meetings take on different formats, functions and configurations in health units, and are recognized as important devices for health work. Despite being institutionally provided for, their regularity is fragile in PHC, which is related to pressures to meet productivity targets. In the CAPS, this mechanism is more consolidated. The agendas generally cover case discussions, discussion of processes and workflows and information/guidelines from higher management levels. In PHC, the nurse is central to coordinating meetings, making decisions, distributing tasks and leading mini-teams. In the CAPS, the technical reference plays a leading role in decision-making and coordinating actions for users. Resolving interpersonal conflicts is pointed out as one of the main challenges for teamwork. The Matrix Meetings between the Family Health teams and the Multiprofessional Team, as well as between the PHC and the CAPS, focused on discussing and "passing on" cases, but other activities also derived from this space, with care and home visits shared between the services. It is understood that team meetings have greater opportunities to become Collective Spaces if some adjustments are made, such as reorganizing the number of people, strategies that encourage greater interaction, participation and sharing of tasks, and decentralizing/taking turns coordinating the group. Meetings with a predominance of informal communication proved to be more dynamic and effective, favoring a greater degree of interprofessional collaboration Ver menos