Orientador: Marcos Aurelio Barbai

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem

Resumo: A presente pesquisa ouve o discurso do ex-presidiário e busca compreendê-lo no interior da Análise Materialista de Discurso, fundada por Michel Pêcheux. A disciplina nos possibilita refletir sobre o "eu" e suas formas de subjetivação, pensar a língua em sua materialidade, contrastar...

Resumo: A presente pesquisa ouve o discurso do ex-presidiário e busca compreendê-lo no interior da Análise Materialista de Discurso, fundada por Michel Pêcheux. A disciplina nos possibilita refletir sobre o "eu" e suas formas de subjetivação, pensar a língua em sua materialidade, contrastar formulações às condições de produção do dizer, construir dispositivos analíticos em seu interior e sobrepor campos do saber (marxismo, psicanálise e linguística). Dispositivos teóricos e analíticos que, ao se fundirem com nosso objeto de análise, sustentam a seguinte questão: que identidades atravessam o sujeito que foi preso, "pagou" sua dívida e que agora retorna ao convívio social? Ainda, "quem o É, pelo que se diz SER?". O foco é na dominação das práticas de dizer sobre a prática daquele que diz (e que é falado por ele) ser falha da imagem de cidadão. Ao dizer de si, o sujeito "se" concebe e formula o nome (símbolo de si). É no espaço da formulação que se observa a imanência de um "eu" que outrora fora tomado administrativamente/juridicamente pelo Estado para imputação de juízo. O ex-presidiário diz do tempo/espaço da prisão (punição/sujeição) ao mesmo tempo que revela sua exterioridade enquanto ex. Posição de retorno aos espaços normatizados que aponta seu entorno. A análise se assenta no entroncamento entre linguagem, ideologia e formas de controle das identidades. Há uma complexa relação de ordem jurídica/política/discursiva na qual se denuncia quem é regente das normas de nomeação e das lógicas de instituição dos sentidos e seus valores. As análises perpassam por um "eu" que é obrigado a falar de si na materialidade condenatória dada para si mesmo. Peso semântico, sentido desgraçado, que opera na abertura de espaços morfossintáticos na própria qualificação/nomeação do sujeito e que faz formas internas de subjetivação/nomeação se deslocarem. Processo que denominamos de desgraçamento. No desdobramento deste processo, foi encontrada uma forma contraditória de abertura para espaços de subjetivação. A forma negativa do NÃO interdita o sujeito enquanto abre espaços para sua sujeição ao divino. Estas relações estão imbricadas com a imagem de Deus e trabalho. Indicamos que a última determinação é Econômica, que toma dispositivos comunicativos e impõe sua lógica de tempo, labor, espaço, vida e direitos. Tentamos também descrever os resíduos de sua ação, formas residuais espectrais que dizem dos dispositivos/mecanismos de dominação que se estendem ao simbólico, para domínio do imaginário e ordenação da realidade

Abstract: This study analyzes the ex-convict discourse and attempts to understand it within the framework of the Materialist Discourse Analysis, founded by Michel Pêcheux. The discipline allows us to reflect on the meaning of the "self" and its forms of subjectivation, to think about language in its...

Abstract: This study analyzes the ex-convict discourse and attempts to understand it within the framework of the Materialist Discourse Analysis, founded by Michel Pêcheux. The discipline allows us to reflect on the meaning of the "self" and its forms of subjectivation, to think about language in its materiality, to contrast formulations with the conditions of production of the utterance, to build analytical tools within it and to overlap fields of knowledge (Marxism, Psychoanalysis and Linguistics).Theoretical and analytical devices that, by merging with our object of analysis, support the following question: which identities traverse the subject who has been imprisoned, "paid" his debt and is now back in society? Also, "who IS he, by what he claims to BE?". This work is focused on the dominance of the saying practices over the practice of the one who says (and is said by him) to be a failure of the citizen image. In speaking of himself, the subject conceives himself and formulates the name (symbol of himself). It is in the space of formulation that we observe the immanence of a "self" that was once taken administratively/legally by the State for imputation of judgment. The ex-convict speaks of the time/space of prison (punishment/subjection) at the same time as revealing his exteriority as an ex. A position of return to normalized spaces that points to his surroundings. The analysis is based on the intersection between language, ideology and forms of identity control. There is a complex legal/political/discursive relationship in which it is revealed who governs the norms of naming and the logics of the institution of meanings and their values. The analysis goes through a "self" that is forced to speak of itself in the condemnatory materiality given to itself. A semantic weight, a disgraced sense, which operates by opening up morphosyntactic spaces in the subject's own qualification/nomination and which causes internal forms of subjectivation/nomination to shift. This process we call disgrace. In the unfolding of this process, a contradictory form of opening up spaces for subjectivation was found. The negative form of the NO interdicts the subject while opening up spaces for their subjection to the divine. These relationships are intertwined with the image of God and work. We have indicated that the last determination is Economic, which takes communicative devices and imposes its logic of time, labor, space, life and rights. We have also tried to describe the residues of its action, residual spectral forms that tell of the devices/mechanisms of domination that extend to the symbolic, to dominate the imaginary and order reality

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