A Revolta da Vachina [recurso eletrônico] : ciência e política na desinformação sobre vacina durante a Covid-19 no Brasil
DISSERTAÇÃO
Português
T/UNICAMP H119r
[The vacCHINA revolt]
Campinas, SP : [s.n.], 2023.
1 recurso online (134 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientador: Sabine Righetti
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo identificar as estratégias com que cientistas, instituições de ciência e evidências científicas são mencionadas para embasar argumentos contrários ao consenso científico sobre a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, partindo do pressuposto de que...
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo identificar as estratégias com que cientistas, instituições de ciência e evidências científicas são mencionadas para embasar argumentos contrários ao consenso científico sobre a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, partindo do pressuposto de que desinformação sobre vacinas foi um componente importante do debate online sobre vacinação durante a pandemia. Além disso, buscou-se analisar as narrativas mais frequentes neles. Para isso, foi realizada Análise de Conteúdo (Herring, 2010; Krippendorf, 2018) em uma amostra de 151 peças de desinformação sobre vacinas compartilhadas online durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19 no Brasil (26 de fevereiro de 2020 a 28 de fevereiro de 2021). Observou-se que as peças analisadas citam mais cientistas (pessoas físicas) do que instituições de evidências (estudos ou resultados de pesquisas): 21,2% (32 peças) citam pelo menos um cientista ou instituição científica, enquanto 7,3% da amostra (11 peças) citam evidências científicas. Em 75% da amostra (114 peças) não há menção a nenhum cientista, instituição científica ou evidência. Dentre os cientistas citados, a maior parte deles (27) são mencionados para legitimar o argumento, enquanto 7 são citados para serem criticados. A tendência se mantém no caso das evidências: apesar de aparecerem em menor quantidade em relação aos porta-vozes, todos os 11 estudos mencionados são utilizados para legitimar o argumento contrário à vacinação contra Covid-19, apesar de igualmente todos serem estudos que confirmam a segurança e necessidade da vacinação: os dados dos estudos são descontextualizados para legitimar o argumento. Os cientistas mais mencionados são aqueles que representam instituições de pesquisa privadas (17), seguido de agências científicas governamentais (10), organizações internacionais (6) e universidades (5). As narrativas mais frequentes foram sobre i) Segurança, eficácia e necessidade das vacinas, ii) Desenvolvimento, provisão e acesso e iii) Motivações econômicas e políticas. Quase metade da amostra (47,5%) falam sobre a CoronaVac isoladamente, enquanto 35% tratam de vacinação no geral e 21% criticam ações governamentais sobre a imunização (não tratando, portanto, dos aspectos científicos das vacinas). 72% de todas as peças que questionam decisões governamentais criticam ações do ex-governador de São Paulo, João Doria, especificamente. Conclui-se que citar porta-vozes da ciência e evidências científicas não parece ser elemento importante das peças de desinformação que circularam com maior proeminência durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19 no Brasil, visto que a grande maioria delas não menciona qualquer um desses elementos. Contudo, quando há a presença deles, identifica-se que há a intenção de utilizar a credibilidade e autoridade conferida à ciência para legitimar argumentos contrários ao consenso científico sobre a vacinação contra a Covid-19. Os resultados apontam também para o uso enviesado e estratégico de dados científicos, conforme apontado pela descontextualização deles para encaixar em determinados argumentos. Em geral, o estudo soma-se à literatura sobre o tema para apontar que desinformação sobre ciência e saúde envolve outros elementos além da rejeição de um fato científico ou do próprio consenso e tampouco está relacionada com falta de conhecimento ou informação: mesmo tendo os dados, eles podem ser avaliados e manipulados conforme certos interesses. Dessa maneira, o estudo permite inferir que dificilmente a questão da desinformação científica e de saúde será solucionada com a oferta unidirecional de mais dados e fatos, confirmando também resultados de pesquisas prévias nas áreas de comunicação de ciência e percepção pública de ciência e tecnologia
Abstract: The herein project aimed to identify the strategies with which scientists, scientific institutions and scientific evidence are used to support claims opposed to the consensus on Covid-19 vaccination in Brazil. Moreover, it was designed to identify the existing narratives within these...
Abstract: The herein project aimed to identify the strategies with which scientists, scientific institutions and scientific evidence are used to support claims opposed to the consensus on Covid-19 vaccination in Brazil. Moreover, it was designed to identify the existing narratives within these claims, building on the assumption that vaccine misinformation was a key component of the online debate on vaccination during the pandemic. To attain these objectives, it was conducted a Content Analysis (Herring, 2010; Krippendorf, 2018) on a sample of 151 vaccine misinformation pieces spread online during the first year of the Covid-19 pandemic in Brazil (February 20, 2020 - February 28, 2021). Results show that the pieces mention more scientists/scientific institutions than evidence (i.e., publications or study results): 21,2% of the pieces mention at least one scientist or an institution whereas 7,3% mention scientific evidence. In 75% of the sample, however, there is no mention of either a scientist, institution or evidence. In the majority of the pieces (27) scientists’s names and affiliations are used to legitimate arguments while in 7 of them they are mentioned to be criticized. The same tendency occurs with evidence: all studies mentioned are used to legitimate arguments, despite the fact that all studies support the safety and need for Covid-19 vaccination: study data and results are decontextualized to fit in arguments contrary to immunization during the pandemic. Most of the mentioned researchers represent private research institutions (27), followed by governmental scientific agencies (10), international organizations (6) and universities (5). The most frequent narratives consisted of i) Vaccines safety, efficacy and necessity, ii) Development, provision and access and iii) Economic and political motives. Close to half of the sample (47,5%) refer to CoronaVac specifically while 35% of them refer to vaccination in general and 21% to public decisions on Covid-19 vaccination (as opposed to scientific aspects of the shots). It is worth highlighting that 72% of all pieces that criticize a governmental decision on vaccination criticizes an action by the former São Paulo state governor, João Dória specifically. In conclusion, the data demonstrated that mentioning scientific evidence or representatives of the scientific consensus on Covid-19 vaccination was not an important feature of vaccine misinformation during the first year of the pandemic in Brazil as the majority of the pieces present no mention no either of such elements. Nonetheless, when they are mentioned, there is the intention to use science’s credibility and authority to legitimate arguments opposed to the consensus. In that sense, the results point to the biased and strategic use of scientific data as shown by their decontextualization to fit certain arguments. In accordance to previous studies, the herein study indicates that science and health misinformation involves elements other than isolated scientific facts or the consensus as a whole and that these are not phenomenon simply related to lack of knowledge or information: even at possession of data, people can evaluate or manipulate them in order to best achieve their interests. As a result, countering science and health misinformation will hardly be done successfully if based on the notion of information and knowledge provision, which also confirms previous observations in science communication and public understanding of science
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