Resumo: Mulheres com história de sangramento recorrente, sobretudo a presença de sangramento menstrual anormal, é relativamente frequente e pode causar impacto considerável na saúde e na qualidade de vida dessas mulheres. Na maioria das vezes, a determinação das causas que predispõem ao sangramento, como história hemorrágica prévia, poderia evitar o desfecho grave, caso o correto diagnóstico e tratamento fossem instituídos a tempo. As doenças hemorrágicas envolvem diversas condições clínicas, sendo caracterizadas por distúrbios hemorrágicos de gravidade variável, espontâneos ou pós-traumáticos. Podem ser de causa hereditária ou adquirida, relacionadas a doenças hematológicas ou a outras condições sistêmicas. Dentre as coagulopatias hereditárias, as hemofilias e a doença de von Willebrand (DVW) são as mais comuns. As trombopatias e deficiências de fatores pró-coagulantes são consideradas doenças hemorrágicas raras. O objetivo deste estudo é determinar a frequência de sintomas hemorrágicos clinicamente significativos entre mulheres em idade reprodutiva em ambiente universitário e correlacionar com possível diagnóstico de doença hemorrágica sistêmica e o impacto na qualidade de vida dessas mulheres. Foram também analisados dados clínicos através de entrevista, incluindo a avaliação para presença de sangramento pelo escore de sangramento (ISTH - BAT), questionário de dados clínicos e questionário de qualidade de vida (SF36). As mulheres que apresentaram critérios para sangramento clinicamente significativo realizaram avaliação laboratorial para investigação de presença de anemia, deficiência de ferro e possíveis diagnósticos de doença hemorrágica sistêmica, além de quantificação de outros fatores da coagulação de acordo com os resultados de seus exames laboratoriais. Foram incluídas no estudo 525 mulheres em idade reprodutiva que realizaram a entrevista. Destas, 102 (19,4%) apresentaram inicialmente ISTH-BAT ? 5 e foram convidadas a coletar amostras de sangue periférico para realização das análises laboratoriais conforme descritas. Além disso, uma nova entrevista do ISTH-BAT foi realizada por uma das três hematologistas envolvidas no estudo. A nova avaliação confirmou que 33 (6,3%) das mulheres em idade fértil apresentavam ISTH-BAT ? 5, considerado um resultado relevante como provável associação à doença hemorrágica. Além disso, 190 (36,2%) participantes relataram sangramento uterino abundante. A presença de história hemorrágica estava correlacionada com pior qualidade de vida das participantes, o que foi ainda mais significativo entre as mulheres com sangramento uterino abundante, que ainda apresentaram maior frequência de ansiedade e depressão. Entre as pacientes que realizaram investigação laboratorial, não foi possível diagnosticar nenhuma doença hemorrágica. No entanto, 12 das 85 (14,1%) participantes investigadas apresentavam anemia e receberam orientação. Esse estudo evidencia que a presença de sangramento uterino abundante pode atingir até mais de um terço de mulheres em idade reprodutiva e que está relacionado com uma pior qualidade de vida e maior prevalência de ansiedade e depressão Ver menos

Abstract: Women with bleeding disorders, especially the presence of abnormal menstrual bleeding, are relatively frequent and can have a considerable impact on the health and quality of life of these women. In most cases, determining the causes that predispose to bleeding, such as a previous history of bleeding, could prevent a serious outcome if the correct diagnosis and treatment were instituted in time. Bleeding disorders involve several conditions with variable severity and can be spontaneous or post-trauma manifestations. These disorders can be hereditary or acquired. Among the inherited bleeding disorders, hemophilia and von Willebrand disease (VWD) are the most common. Platelet dysfunctions and deficiencies of procoagulant factors are considered rare bleeding disorders. The aim of this study is to determine the frequency of clinically significant bleeding symptoms among women of reproductive age in a university environment and to correlate it with a possible diagnosis of a bleeding disorder and the impact on the quality of life of these women. Clinical data were also analyzed through interviews, including the evaluation of the presence of bleeding using the bleeding score (ISTH - BAT), clinical data questionnaire, and a quality-of-life questionnaire (SF36). Women who presented criteria for clinically significant bleeding underwent laboratory evaluation to investigate the presence of anemia, iron deficiency, and possible diagnoses of the most common bleeding disorders, in addition to quantification of other coagulation factors according to the results of their laboratory tests. This study enrolled 525 women of reproductive age who underwent the interview. Of these, 102 (19.4%) initially presented ISTH-BAT ? 5 points and were invited to collect peripheral blood samples to perform the laboratory tests as described. In addition, a new ISTH-BAT interview was performed by one of the three hematologists involved in the study. The new assessment confirmed that 33 (6.3%) of the women of childbearing age had ISTH- BAT ? 5. Additionally, 190 (36.2%) participants reported heavy menstrual bleeding. The presence of a bleeding history was correlated with a worse quality of life for the participants, which was even more significant among women with heavy menstrual bleeding, who still had a higher frequency of anxiety and depression. Among the patients who underwent laboratory investigation, it was not possible to diagnose any bleeding disorder. However, 12 of the 85 (14.1%) investigated participants had anemia and received appropriate guidance. This study shows that the presence of heavy menstrual bleeding can affect up to one-third of women of reproductive age and that it is related to a worse quality of life and a higher prevalence of anxiety and depression Ver menos