Resumo: A integração comercial nessa nova fase do fenômeno da globalização com a formação de estruturas de produção verticalmente fragmentadas apresenta desafios para países em desenvolvimento. Apesar desse modelo ser dispersado internacionalmente, a produção mundial continua altamente concentrada. Os países em desenvolvimento sem competitividade internacional se transformaram em importadores líquidos de manufaturas e, ao mesmo tempo, ficaram expostos à tendência de queda preços relativos das economias avançadas, o que faz com esses países fiquem ainda mais suscetíveis à desindustrialização. Nesse contexto, a questão do desenvolvimento industrial deve ser requalificada, já que há assimetrias e especificidades quanto a integração dos países em desenvolvimento, como o Brasil, na estrutura de produção verticalmente integrada. Uma série de questionamentos podem surgir a respeito do papel de uma expressiva demanda doméstica nas estratégias de desenvolvimento industrial, uma vez que os países em desenvolvimento poderiam ampliar sua inserção comercial a partir da ampliação da importação de insumos para posterior exportação de bens e serviços. Essa visão reducionista, não considera os desafios que países em desenvolvimento como o Brasil tem enfrentado com as mudanças globais da produção. Ao analisar a coevolução entre a integração comercial e o desenvolvimento industrial da economia brasileira na atual fase da globalização marcada pela produção verticalmente fragmentada, esta pesquisa contribui explorando o diálogo entre a literatura kaldoriana, schumpteriana, estruturalista e a literatura das Cadeias Globais de Valor (CGVs). Para essas correntes teóricas, o padrão de especialização comercial é relevante para explicar as taxas de crescimento de longo prazo. E os países em desenvolvimento devem buscar fortalecer os setores tecnologicamente dinâmicos que apresentam alta elasticidade-renda no comércio mundial. Por meio de indicadores de vantagens comparativas reveladas, de market-share, de participação e extensão nas CGVs, e de gastos em atividades inovativas verificou-se que a especialização comercial do Brasil ocorreu de forma similar com o proposto na hipótese de Prebisch-Singer na versão multisetorial da Lei de Thirlwall. Na qual, os setores que têm maior participação nessas redes são os de bens primários, que apresentam baixas elasticidades-renda da demanda internacional, e os setores mais tecnologicamente dinâmicos possuem baixas capacidades em adicionar valor àquilo que é exportado. Porém, esse diagnóstico fica preso a indicadores tradicionais que fazem o recorte pelas exportações. Como a indústria brasileira tem as suas particularidades, foram analisadas as ligações intersetoriais, confirmando um padrão de especialização no qual há o fortalecimento da demanda intersetorial dos setores voltados à produção primária e uma redução dos setores industriais. Foram também realizados exercícios de decomposições estruturais visando uma análise setorial da externalização da demanda doméstica e verificou-se que o aumento da dependência das importações pela substituição de insumos nacionais por importados na demanda intermediária e final tem reduzido o valor bruto de produção, o valor adicionado e a geração de empregos. De forma geral, essa tese contribui ao reforçar as limitações ligadas a uma estratégia de integração comercial que não incorpora questões estratégicas associadas ao desenvolvimento industrial, assim como ao apresentar que o processo de integração comercial brasileiro veio acompanhado do estrangulamento das vias de desenvolvimento industrial que o país dispunha, em especial valendo-se de seu mercado doméstico e do seu robusto parque industrial Ver menos

Abstract: Trade integration in this new phase of the phenomenon of globalization with the formation of vertically fragmented production structures presents challenges for developing countries. Despite this model being dispersed internationally, world production remains highly concentrated. Developing countries without international competitiveness have become net importers of manufactures and, at the same time, have been exposed to the downward trend in the relative prices of advanced economies, which makes these countries even more susceptible to deindustrialization. In this context, the matter of industrial development must be requalified, since there are asymmetries and specificities about the integration of developing countries, such as Brazil, in the vertically integrated production structure. A series of questions may arise regarding the role of a significant domestic demand in industrial development strategies, as developing countries could expand their trade integration by increasing the imported inputs for later export of goods and services. This oversimplistic view does not consider the challenges that developing countries like Brazil have faced with global changes in production. By analyzing the co-evolution between trade integration and industrial development of the Brazilian economy in the current phase of globalization marked by vertically fragmented production, this research contributes by exploring the dialogue between Kaldorian, Schumpterian and structuralist literature and the literature of Global Value Chains (GVCs). For these theories, the trade specialization is relevant to explain long-term growth rates. And the developing countries should seek to strengthen technologically dynamic sectors that have high income-elasticity in world trade. By indexes of revealed comparative advantages, market share, GVCs participation and extension, and expenditure on innovative activities, it was found that Brazil's trade specialization occurred in a similar way to that proposed in the Prebisch-Singer hypothesis in multisectoral version of Thirlwall's Law. In which, the sectors that have greater participation in these networks are those of primary goods, which have low income-elasticities of international demand and the more technologically dynamic sectors have low capacity to add value to what is exported. However, this diagnosis is tied to traditional indexes that focus on exports. As the Brazilian industry has its particularities, intersectoral links were analyzed, confirming a pattern of specialization in which there is a strengthening of intersectoral demand from primary sectors and a reduction in industrial sectors. Structural decomposition exercises were also carried out with the purpose to have a sectorial analysis of the externalization of domestic demand, and it was verified that the increase in dependence on imports by the substitution of national inputs for imported ones in the intermediate and final demand has reduced the gross value of production, the value added and the generation of jobs. In general, this thesis contributes by reinforcing the limitations linked to a trade integration strategy that does not incorporate strategic issues associated with industrial development, as well as by presenting that the Brazilian trade integration process was accompanied by the strangulation of industrial development paths that the country had, especially taking advantage of its domestic market and its robust manufacturing sector Ver menos