Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar a categoria de material musical na obra de Theodor W. Adorno. Partindo do pressuposto da mediação entre música e sociedade através dessa categoria, sustentamos a tese de uma diferenciação entre dois modelos crítico-musicais que procuram apreender as mudanças concretas na situação da música de vanguarda entre as décadas de 1930 e 1960. No primeiro modelo, cuja obra principal é Filosofia da Música Nova (1949), a categoria de material musical fornece o critério a partir do qual as obras da geração de Arnold Schoenberg e Igor Stravinsky são estética e socialmente criticadas. Por um lado, Adorno considera que o caráter progressista da Escola de Schoenberg se mostra na resposta consistente aos problemas composicionais do material tecnicamente avançado, opondo-se às tendências reacionárias do neoclassicismo musical naquele período. Por outro lado, ele identifica na tendência à racionalização sem falhas da técnica musical a partir do dodecafonismo uma ameaça à liberdade subjetiva, caracterizando o que chamou de fetichismo do material. Tal tendência se confirmou para Adorno no início dos anos 1950 através do serialismo integral dos jovens compositores de Darmstadt – marca do esgotamento dos potenciais críticos da Música Nova. As mudanças no estado da composição musical a partir de meados da década de 1950, além da participação ativa de Adorno nos debates musicais do pós-guerra, no entanto, indicam possibilidades alternativas a esse esgotamento. Nos anos 1960, Adorno procurou apreender tais possibilidades através de um novo modelo crítico, centrado no que chamou de música informal Ver menos

Abstract: This study aims to investigate the category of musical material in the work of Theodor W. Adorno. Starting from the assumption of the mediation between music and society through this category, we support the thesis of a differentiation between two critical-musical models that seek to apprehend the concrete changes in the situation of avant-garde music between the 1930s and the 1960s. In the first model, whose main work is Philosophy of New Music (1949), the category of musical material provides the criteria from which the works of the generation of Arnold Schoenberg and Igor Stravinsky are aesthetically and socially criticized. On the one hand, Adorno considers that the progressive character of the Schoenberg School is shown in the consistent response to the compositional problems of technically advanced material, opposing the reactionary tendencies of musical neoclassicism in that period. On the other hand, he identifies in the trend toward the flawless rationalization of musical technique as in twelve-tone composition a threat to subjective freedom, characterizing what he called material fetishism. Such a tendency was confirmed for Adorno in the early 1950s through the integral serialism of the young Darmstadt composers - a sign of the exhaustion of the critical potentials of New Music. Changes in the state of musical composition from the mid-1950s onward, in addition to Adorno's active participation in postwar musical debates, however, indicate alternative possibilities to this exhaustion. In the 1960s, Adorno sought to apprehend such possibilities through a new critical model, centered on what he called informal music Ver menos