Resumo: Esta tese tem como objetivo principal a análise de parte da obra do antropólogo, educador e político Darcy Ribeiro. Visa, a partir daí, problematizar o discurso indigenista enunciado em um conjunto de escritos do autor, qual seja: os Estudos de antropologia da civilização, série de seis livros publicados entre fins da década de 1960 e de 1990. Buscaremos evidenciar, de modo mais específico, como se articula nessas obras um leque de construções discursivas sobre os povos indígenas, realizadas no interior de sua narrativa histórico-antropológica sobre a formação do Brasil e do "povo brasileiro". A noção de discurso indigenista aqui aludida, elaborada em diálogo com reflexões oriundas do campo da historiografia indígena e da antropologia, refere-se a uma percepção ampliada do conceito de Indigenismo, que propõe pensá-lo não apenas como um conjunto de políticas, oficiais ou não, empreendidas em relação aos povos indígenas, mas também como uma miríade de construções simbólicas sobre a própria condição indígena. Neste sentido, a hipótese fundamental é a de que o discurso indigenista enunciado nas narrativas de Darcy Ribeiro aqui analisadas projeta os sujeitos indígenas como corpos transitórios, isto é, como povos que estão na iminência de tornarem-se Outros, seja pela inevitável transformação de suas formas de produção da vida material – critério fundamental por ele utilizado para definir a condição indígena -, seja pela radical e, supostamente, inexorável, mudança de suas formas de vida, que os levaria a uma condição de "índios genéricos", guardando poucos ou nenhum traço de sua "cultura original". Em termos historiográficos, acreditamos que a tese contribui tanto para a problematização do trabalho de um dos autores clássicos do pensamento social e político brasileiro, como também, e sobretudo, para ampliar o leque de indagações acerca das relações estabelecidas entre o Estado e a sociedade brasileira com os povos indígenas habitantes do país. Relações de saber e poder que se entrelaçam em discursos e práticas de diferentes atores e sobre as quais é imperativo refletir Ver menos

Abstract: The main objective of this thesis is to analyze part of the work of the anthropologist, educator and politician Darcy Ribeiro. It aims, from there, to problematize the indigenist discourse enunciated in a set of the author's writings, namely: the Studies of Anthropology of Civilization, a series of six books published between the late 1960s and 1990s. We wish to demonstrate specifically how a range of discursive constructions about indigenous people is articulated in these works, carried out within their historical-anthropological narrative about the formation of Brazil and the "Brazilian people". The notion of indigenist discourse alluded to here, elaborated in dialogue with reflections from the field of indigenous historiography and anthropology, refers to an expanded perception of the concept of Indigenism, which proposes to think of it not only as a set of policies, official or not, made in relation to indigenous people, but also as a myriad of symbolic constructions about the indigenous condition itself. In this sense, the fundamental hypothesis is that the indigenist discourse enunciated in the narratives of Darcy Ribeiro analyzed here, projects indigenous subjects as transitory bodies, that is, as people that are on the verge of becoming Others, either through the inevitable transformation of their ways of producing material life - a fundamental criterion he used to define the indigenous condition -, either by the radical and, supposedly, inexorable change in their ways of life, which would lead them to a condition of "generic Indians", keeping few or no trace of their "original culture". In historiographical terms, we believe that the thesis contributes both to the problematization of the work of one of the classic authors of Brazilian social and political thought, as also, and above all, to expanding the range of inquiries about the relations established between the State and Brazilian society with the indigenous people who live in the country. Relations of knowledge and power that are intertwined in the discourses and practices of different actors and on which it is truly important to reflect about Ver menos