O artigo procura estudar como a dualidade entre urbs e civitas aparece no projeto de Lúcio Costa para Brasília, tendo como pano de fundo as discussões sobre arquitetura moderna, democracia e monumentalidade, de grande intensidade no período. Desde a sua ”conversão” no princípio dos anos 30, o autor teve uma obra sempre engajada no estabelecimento e consolidação da arquitetura moderna no País, transparecendo expectativas e crenças nas virtualidades que ela promoveria em uma nação em construção como o Brasil no século XX. Embora rodeado de uma geração que o sustentava, suas posições, no entanto, nem sempre coincidiram literalmente com as de seus comitentes e colegas. Brasília é exemplo excelente desses contrastes políticos. É mister
que a nova capital federal teve como motivação política por parte de Kubitschek e seus aliados um desejo de exaltação do próprio regime democrático vigente. De modo análogo, o debate arquitetônico em andamento nas revistas especializadas e nos CIAMs pautava-se, desde o pós-Guerra, em moldar os termos em que a arquitetura moderna e a democracia poderiam ser articuladas de modo objetivo. A solução de Costa, com sua premissa de desenhar uma capital pautada pela oposição histórica entre
urbs e civitas, embora celebrada, causou estranhamento nesse contexto, chegando a ser por vezes atacada como autocrática ou, mais frequentemente, como ambígua em relação aos horizontes democráticos que se esperava de Brasília. No descompasso existente entre o arquiteto e seus colegas e comitentes, parte-se da hipótese de que Costa deliberadamente se afastou do modo como as correntes modernas do pós--Guerra relacionavam monumentalidade e democracia, tencionando desenhar Brasília a partir de relações distintas entre Estado e arquitetura. A argumentação parte das
críticas recebidas por Costa de seus colegas, de um estudo breve da sua leitura dos debates americanos, e desdobra-se na análise de nuances de seu projeto para a capital federal, e como neles se entrevém uma peculiar elaboração de representatividade amparada em categorias da história da arte e da política clássica. Busca-se entremear os escritos e projetos de Costa e cotejá-los com publicações e documentações em um recorte temporal que parte da década de 30 até meados dos anos 60. Para isso, foi levantada ampla bibliografia crítica disponível, com a qual igualmente este artigo
buscará dialogar, pontuando uma discussão ainda atual Ver menos

This article seeks to shed light on how Lúcio Costa’s proposal for Brasilia dealt with the political pressures existent during the years of its. The article seeks to study the duality between urbs and
civitas in Lúcio Costa’s design for Brasília, considering its contemporary intense discussions concerning modern architecture, democracy and monumentality as background. Since his ‘conversion’ at the dawn of the thirties, the architect had always shown an eagerness to establish and consolidate the modern architecture in Brazil. Costa had hopes and belief in the possibilities of modern architecture in an intensively developing country as Brazil was during the XXth century. Although he had a generation that would support him, his positions weren’t always identical to those of his colleagues and commissioners. Brasilia is an excellent example of these contrasts. It is rather obvious that the federal capital was built under the motivation to celebrate Kubitschek and his allies’ efforts on consolidating the democratic structure in the country. Likewise, the international debate on architecture made by specialized publications and the CIAMs after the II World War were engaged in merging modern architecture postulations to a representation of democracy in a strict way. Costa’s design of a capital built upon the historical opposition between urbs and civitas, although celebrated, was received with a bit of strangeness in this context Sometimes, the project was attacked as autocratic or, more often, as ambiguous on its connections with the democratic horizons that were initially expected from Brasilia. In the mismatch existing between Costa and his colleagues and commissioners, it will be studied the hypothesis that Costa deliberately casted himself away from the efforts of the post-war modernist trends to connect monumentality and democracy. Brasília was designed rendering different terms between
state and architecture. The argumentation sets form the critics made to Costa’s proposal by his
peers, along with an overview on how the architect read the American discussions on monumentality, unfolding in an analysis of aspects of his concept for Brazil’s new capital, and how they glimpse a peculiar elaboration of representative architecture supported by categories of History of Art and Classical Politics. It will be investigated the aspects of these different expectations on how would be the modern capital of a promising country, focusing on the participation of Costa’s own architectural and political views during these years. Such approach was touched by the work of some intellectuals, but its utmost questions remains interesting for research. It will be correlated writings and projects of Costa and they will be contraposed to publications and documents made in a temporal span from the thirties until the mid-sixties. A long critical bibliography was gathered and studied with which the article tries to establish a dialogue in this still of pertinent matter Ver menos