Resumo: Nesta dissertação, intentamos perscrutar os enunciados de superação do humano pela máquina definidos pela Singularidade tecnologia, passando em revisão a obra de Raymond Kurzweil. Primeiramente, procuramos estabelecer uma definição teórico-conceitual para teses singularistas. Para tanto, buscamos apresentar com fidedignidade os pressupostos expressos por Kurzweil, evidenciando o caráter entusiasmado de seus prognósticos sobre o fim da espécie humana, tal qual conhecemos. Para o autor, o iminente crepúsculo da humanidade, o qual será provocado pela irrupção de um avanço tecnológico sem precedentes – uma singularidade –, trará a solução para uma série de problemas imemoriais, como a doença, a fome e a morte. Num segundo momento do texto, esforçamo-nos para relativizar tais prognósticos sobre o futuro, demonstrando que a Singularidade, para além de uma teoria tecnocientífica, constitui uma narrativa contemporânea que pretende conferir um significado transcendente à frenética aceleração de nossos tempos – e, como toda narrativa, ela está imbuída por interesses e sentidos específicos. Ao contrário da imagem criada por Kurzweil, defendemos que as teses singularistas não são meras aferições objetivas e neutras da realidade, mas um ponto de vista sobre ela que, invariavelmente, está condicionado por um juízo de valor particular. Buscamos, com esta dissertação, jogar luz sobre tal juízo de valor escuso, demonstrando como eles corroboram para a aprofundamento de injustiças e desigualdades sociais. Ademais, num terceiro movimento, propomos estabelecer uma crítica ontológica, inspirada pela obra do filósofo Gilbert Simondon, aos enunciados singularistas. Para que o fim do humano e a vitória da máquina sejam decretados é preciso supor, como faz o Kurzweil e seus companheiros, que humanos e máquinas sejam iguais e competem uns com os outros. Nossa investigação primou evidenciar que tal maneira de representar humanos e máquinas além de ser reducionista e tecnicamente infundada, corrobora para construção de um ideário tecnocrático, o qual propõe subjugar os objetos técnicos, a natureza e o próprio ser humano. Por fim, com esta dissertação, gostaríamos de aventar outras maneiras de pensar e experienciar nossa relação com a técnica: humanos e máquinas possuem modos de existência próprios e participam de processos de individuação diferentes. Assim, tal relação deve ser entendida como soma de duas potências complementares, que se constroem mutuamente – e não como uma disputa entre vencedores e perdedores, na qual um deve morrer em detrimento do outro Ver menos

Abstract: In this dissertation, we intend to analyse the statements enunciated by the technological Singularity, which assert the machine will overcome humankind, through Raymond Kurzweil's work. At first, we seek to elucidate the theoretical-conceptual definition of the singularitarian thesis. We seek to present the assumptions expressed by Kurzweil by showing the enthusiastic character of his prognostications about the end of the human species as we know it. According to the author, the imminent decay of humanity, which will be provoked by the emergence of an unprecedented technological advance – a singularity –, will be the solution to immemorial issues such as disease, hunger, and death. In the following part of the text, we endeavor to put under scrutiny such predictions about the future, demonstrating how Singularity, besides being a technoscientific theory, constitutes a contemporary narrative that intends to provide a transcendent aspect to the frantic acceleration of our times – and therefore it is imbued with inherently and specific interests and meanings, as it happens in every narrative. In opposition to this image created by Kurzweil, we argue that singularitarian thesis are not objective gauges of reality, but a point of view over it, which is invariably conditioned by particular values and judgements. On this dissertation, we seek to shed light on such interests and value judgments omitted by the Singularity’s thesis, demonstrating how these corroborate to the deepening of social injustices and inequalities. Furthermore, in a third and final movement, we propose to establish an ontological critique of the singularitarian statements, inspired by the work of the philosopher Gilbert Simondon. In order to decree the end of humankind and the victory of the machine, it is necessary to assume, as it’s done by Kurzweil and his companions, that humans and machines are equal or equivalents and compete with each other. Our investigation intends to demonstrate how these representation on humans and machines, besides being reductionist and technically unfounded, also corroborates to set up technocratic principles, which proposes to subjugate the technical objects, the nature and even the human being itself. Finally, with this dissertation, we would like to propose other ways of thinking and experiencing our relationship with technique: humans and machines have their own modes of existence and participate in different individuation processes. Thus, such a relationship must be understood as the sum of two complementary potencies, which are mutually constructed - and not as a dispute between winners and losers, in which one must die at the expense of the other Ver menos