Orientador: Jackeline Rodrigues Mendes

Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação

Resumo: A pesquisa que por ora subscrevemos moveu-se pelos territórios físico e simbólico, estando neles inclusos o próprio corpo e as interações das/nas quais ele atua, instituindo e instituindo-se por entre saberes culturais tradicionais, de base oral, e por entre práticas curriculares que se...

Resumo: A pesquisa que por ora subscrevemos moveu-se pelos territórios físico e simbólico, estando neles inclusos o próprio corpo e as interações das/nas quais ele atua, instituindo e instituindo-se por entre saberes culturais tradicionais, de base oral, e por entre práticas curriculares que se desdobram numa escola sediada na Comunidade Remanescente de Quilombo Mussuca, localizada no estado de Sergipe (Brasil). Esta pesquisa procura compreender como o Samba de Pareia, prática afrodiaspórica específica dessa Comunidade, entrecruza-se com o currículo escolar, considerando que os territórios Quilombo , escola e corpo se atravessam, implicam-se e se entretecem na Comunidade em lume. As incursões investigativas percorreram não as "zonas do ser", nem tampouco as do não ser, mas a zona do sendo, que se configura como potência nas encruzilhadas ("exúnicas" ou não). Esse percurso da pesquisa, enquanto potência, um vir a ser em contínuo movimento, aponta caminhos outros e, assim, erige a possibilidade de transgressão em relação à racionalidade ocidental moderna/colonial, que se arvora universal e a única digna de fé. As encruzilhadas foram animadas por escrevivências e (entre)cruzamentos, inclusive do próprio pesquisador, como uma dinâmica de produção de conhecimentos, visto que, para nós negros, enquanto prática situada, a pesquisa carrega as marcas da chibata (dos suplícios), mas também as resistências dos quilombos, das capoeiras e dos candomblés. Foi-nos cara, ainda, a escuta sensível, aquela dispensada aos "mais velhos" nos terreiros de Candomblé: ancestralizada, sustida na memória (corpo) e assente no campo do sagrado e na força vital que entrelaça e movimenta os sujeitos. O aporte teórico, que embalou as discussões, priorizou o pensamento decolonial, sem, contudo, limitar-se a ele. Não obstante o Samba de Pareia brinque no chão da escola, porque demarca e é demarcado pelo e no corpo das/os estudantes e também das/os servidores públicos que nela atuam ou atuaram, a investigação desvelou que: 1) do ponto de vista institucional, é no campo do exótico (ex-ótico) e, por conseguinte, em momentos singulares que a prática toma assento nos bancos escolares; caso contrário, ela é alocada no "outro lado da linha" do pensamento abissal; 2) a militância de algumas/alguns professoras/es tem sido a principal responsável por transgredir as fronteiras impostas aos saberes afrodiaspóricos da/na Mussuca; 3) consequentemente, a escola funciona "fora da lei", se considerarmos a Resolução CNE/CEB nº 8/2012, que institui a Educação Escolar Quilombola.

Abstract: The research that was conducted by now has moved through physical and symbolic territories, including in them the scope itself and the interactions of/in which it operates, instituting and establishing itself through traditional cultural knowledge, of oral basis, and among curricular...

Abstract: The research that was conducted by now has moved through physical and symbolic territories, including in them the scope itself and the interactions of/in which it operates, instituting and establishing itself through traditional cultural knowledge, of oral basis, and among curricular practices that unfold in a school based in the Remnant Community of Quilombo Mussuca, located in the state of Sergipe (Brazil). This research asks around understanding how the Samba de Pareia, a specific Afrodiasporic practice of this Community, intersects with the school curriculum, taking into account Quilombo, school and body as territories that are crossed, involved and intersected in the focused Community. The investigative incursions covered not the "zones of to be", nor those of the non-being, but the zone of being, which is configured as strength at the crossroads ("exunique" or not). This way of conducting the research, as a strength, a coming to be in continuous movement, points out other paths and, thereby, erects the possibility of rupture with the modern/colonial Western rationality, which is universal and the only one worthy of faith. The crossroads were animated by scribes and (inter)sectings, including the researcher himself, as a dynamic of knowledge production, since, for us blacks, as a situated practice, the research bears the marks of the whip (of the torments), but also the resistances of quilombos, capoeiras and candomblés. It was also hard to us, the sensitive listening, that one excused to the "elders" in the terraces of Candomblé: ancestralized, whispered in memory (body) and based on the field of the sacred and the vital force that interweaves and moves the subjects. The theoretical basis, which cheered the discussions, has prioritized decolonial thinking, without, however, limiting itself to it. Despite the Samba de Pareia is played on the school floor, because it delineates and is delineated by and in the body of students and also public servants who act on it, the investigation has revealed that: 1) from the institutional point of view, it is in the field of the exotic (ex-optic) and, consequently, in singular moments that the practice takes seating in the school benches; otherwise, it is allocated on the "other side of the line" of abyssal thought; 2) the militancy of some teachers has been the main responsible for the rupture of borders imposed on the aphrodiasporic knowledge of Mussuca; 3) consequently, the school operates "outside the law", if we consider the Resolution 08/2012 (CNE/CEB), which establishes Quilombola School Education.

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