Resumo: Nos textos musicais do século XVI, a música é associada ao Humanismo e ao redescobrimento da antiguidade clássica e neles, ela é identificada como um tipo de discurso e o músico, como um orador ou poeta que deve seguir os princípios da retórica verbal na composição e interpretação musical. A presente pesquisa propõe-se a compreender de que forma as virtudes retóricas orientavam a formação do músico para a prática musical no século XVI, tomando como documento para investigação o tratado Le istitutioni harmoniche (1558), de Gioseffo Zarlino. A análise foi realizada de acordo com os conceitos de virtude e vício, conforme definidos na Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e também de seu entendimento no âmbito da elocução retórica, na qual são especificadas quatro virtudes da elocução ¿ latinitas, perspicuitas, decorum e ornatus. Cada uma dessas virtudes e seus vícios correspondentes foi explorada tanto isoladamente, com exemplos de diversos trechos do tratado, bem como de forma interdependente, mediante a apreciação das recomendações de Zarlino acerca da acomodação da música ao texto. A análise realizada revelou uma atenção a elementos mais gerais do discurso musical. O autor demonstra uma evidente preocupação com a correção no uso dos elementos e materiais necessários para a expressão musical, tanto no estabelecimento de regras quanto na advertência contra barbarismos, o que se estende também à clareza e inteligibilidade do discurso musical. A investigação ainda mostrou que a noção de decoro é imprescindível para a prática do músico, pois perpassa as escolhas realizadas em cada situação composicional e interpretativa específica e é, também, o parâmetro que permite classificar determinado procedimento como um erro ou como um ornamento, de modo que várias recomendações do autor que foram posteriormente qualificadas como regras absolutas eram, na verdade, passíveis de flexibilidade. Assim, a normativa estabelecida por Zarlino como um conjunto de obrigações e proibições, vista à luz das virtudes da elocução, passa a admitir uma série de licenças e exceções, o que permite uma compreensão mais aprofundada desse tratado Ver menos

Abstract: In 16th century musical texts, music is associated to Humanism and to the rediscovery of Classical Antiquity. In them, music is identified as a type of discourse and the musician as an orator or poet who must follow the principles of verbal rhetoric in the composition and interpretation of music. This research aims to understand how rhetorical virtues guided the formation of the musician for musical practice in the 16th century, taking the treatise Le istitutioni harmoniche (1558), of Gioseffo Zarlino, as the main document for this investigation. The analysis was performed according to the concepts of virtue and vice, as defined in Aristotle's Nicomachean Ethics, as well as his understanding in the context of rhetorical style, in which four virtues are specified ¿ latinitas, perspicuitas, decorum and ornatus. Each of these virtues and their corresponding vices has been explored both in isolation, with examples from various passages of the treatise, as well as interdependently, by appreciating Zarlino's recommendations regarding the accommodation of music to the text. The analysis revealed an attention to more general elements of the musical discourse. The author demonstrates a clear concern with the correct use of the elements and materials necessary for musical expression, both by establishing rules and warning against barbarisms, which also extends to the clarity and intelligibility of the musical discourse. This research has also shown that the notion of decorum is essential to the practice of the musician, as it permeates the choices made in each specific compositional and interpretive situation and is also the parameter that allows classifying a given procedure as an error or as an ornament. In this way, many of the author¿s recommendations that were later regarded as absolute rules were, in fact, liable to flexibility. Consequently, the norms established by Zarlino as a set of obligations and prohibitions, seen in the light of the virtues of style, now allow a gamut of licenses and exceptions, which allows a deeper understanding of this treatise Ver menos