Resumo: No contexto da República de Weimar, emergiu um movimento político-cultural conhecido como Revolução Conservadora, formado principalmente por combatentes da Primeira Guerra Mundial que se sentiram traídos pela negociação política da rendição. Entre eles, figura Ernst von Salomon (1899-1973), jovem formado em escolas de cadetes, prussiano orgulhoso, fiel ao império (portanto antirrepublicano e antidemocrático), contrário tanto às ideologias de esquerda quanto aos valores burgueses. Após atuar nos Freikorps em diferentes frentes e participar da Organisation Consul, movimento conspiratório contra membros do governo vigente (inclusive no assassinato do então ministro Walter Rathenau, motivo pelo qual foi preso), registrou suas experiências no romance autobiográfico Die Geächteten (1929). Ao contrário de soldados que deram seu testemunho dos horrores da guerra a fim de denunciar a barbárie dos campos de batalha e da destruição em massa, Salomon procura ressaltar o heroísmo e a luta nacionalista pela restauração do império ou, pelo menos, pela desestruturação do sistema democrático. Como a maioria dos veteranos de guerra, acumulou experiências potencialmente traumáticas, como a violência extrema da guerra de trincheiras, as mortes de companheiros ou o choque de cenas fortemente abjetas. No entanto, ele não escreve como um traumatizado, como se verifica na literatura de testemunho: pelo contrário, ele cria uma narrativa pouco subjetiva e não fragmentada; procura apresentar uma memória totalizante e detalhista, porém sem distanciamento; não demonstra vulnerabilidade e não se coloca em dúvida. Procura dar conta do real objetivamente e utiliza recursos estéticos literários, e não menciona dificuldades na representação simbólica dos eventos narrados. Como observador (testis) e sobrevivente (superstes), fala dos mortos de uma maneira "apatética", sem emoções. Trata-se, portanto, de uma espécie de "antitestemunho" dos eventos traumáticos que experienciou. Essa característica pode ser atribuída ao corpo de Panzer: uma armadura (ou couraça), uma blindagem psíquica que, por um lado, torna o indivíduo mais resistente à dor, mas, por outro, gera uma cisão interna que o separa do universo externo, bloqueando a sensibilidade a qualquer estímulo que contrarie sua visão de mundo, e organiza seu inconsciente de modo a exercer uma postura dominadora sobre as categorias que considera inferiores ou incapazes, como forma de manter intacta a sua estrutura interna. Tal armadura não permite que ele se expresse de forma subjetiva ou sentimental, pois isso poderia desagregar o seu Eu e destruí-lo Ver menos

Abstract: During the Weimar Republic in Germany, a political-cultural movement known as "Conservative Revolution" emerged. It was formed mainly by World War I combatants who felt betrayed by the political negotiation of surrender. Among them is Ernst von Salomon (1899-1973), a young graduate of cadet schools, proud Prussian, faithful to the empire (thus anti-republican and undemocratic), contrary to both left-wing ideologies and bourgeois values. After acting in the Freikorps on different fronts and participating in the Organisation Consul, a conspiracy movement against members of the situation government (including the murder of Walter Rathenau, for which Salomon was arrested), he registered his experiences in the autobiographical novel Die Geächteten (1929). Unlike soldiers who had witnessed the war horrors and denounced battlefield¿s barbarism and mass destruction, Salomon praises heroism and the fight to restore the German Empire or at least to disrupt the newly created democracy. Like most war veterans, he accumulated potentially traumatic experiences, such as the extreme violence of trench warfare, the comrades¿ deaths, or the vision of highly abject scenarios. However, he does not write as a traumatized person, as is usually the case in literary testimony: on the contrary, he creates a narrative which is neither subjective nor fragmented; he presents a totalizing and detailed memory, but without distancing; he does not show vulnerability and is never in doubt. He tries to account for the "real" in an objective way and makes use of literary aesthetic strategies, and does not mention issues on symbolically representing traumatic events. As an observer (testis) and survivor (superstes), he speaks of the dead in an apathetic, emotionless manner. It is, therefore, a kind of "anti-testimony" of the traumatic events he had experienced. This characteristic can be attributed to a Panzer body: an armor, a psychic armoring which, on the one hand, makes one more resistant to pain, but, on the other, creates an internal split that separates them from the external universe, blocking sensitivity to any stimulus that contradicts their worldview, and organizing their unconscious to impose a dominating behavior against social categories they consider inferior or incapable, as a way of protecting their inner structure. Such armor does not allow him to subjectively or sentimentally express himself, for it could break his "self" down and therefore destroy him Ver menos