União da raça [recurso eletrônico] : Frederico Baptista de Souza e a militância negra paulista no Brasil pós-abolição (1875-1960)
Lívia Maria Tiéde
TESE
Português
T/UNICAMP T44u
[Race united]
Campinas, SP : [s.n.], 2023.
1 recurso online (348 p.) : il., digital, arquivo PDF.
Orientadores: Lucilene Reginaldo, Daniel Barros Domingues da Silva
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e Rice University
Resumo: Esta tese demonstra as mudanças e continuidades do movimento negro paulista inicial por meio da vida de Frederico Baptista de Souza (1875-1960). Embora ele seja mencionado em estudos anteriores, este é o primeiro trabalho escrito inteiramente sobre ele. Trabalhos acadêmicos antecedentes...
Ver mais
Resumo: Esta tese demonstra as mudanças e continuidades do movimento negro paulista inicial por meio da vida de Frederico Baptista de Souza (1875-1960). Embora ele seja mencionado em estudos anteriores, este é o primeiro trabalho escrito inteiramente sobre ele. Trabalhos acadêmicos antecedentes reduziram a trajetória de Frederico ao ativismo na imprensa negra, entre 1916 e 1924. Ao expandir essa perspectiva, meu trabalho traz contribuições inéditas para a compreensão da mobilização negra brasileira; faz isso oferecendo uma nova perspectiva sobre a linha do tempo e os fundamentos conceituais do movimento. Ao explicar o ativismo de Souza, mostro que o movimento negro brasileiro não foi um fenômeno isolado no pós-abolição, pois se originou diretamente do catolicismo liberal dos abolicionistas do século XIX. A partir dessa ideia, Frederico e outros "homens de cor" formaram o Grêmio Kosmos, uma organização exclusivamente para negros brasileiros – fato que ilustra as agudas tensões raciais entre esse grupo e os imigrantes europeus. Frederico foi o principal líder desse grêmio desde sua fundação em 1908 até suas últimas atividades em 1932. Além disso, avanço na produção existente ao mostrar que o ativismo de sujeitos como Frederico não terminou nas primeiras décadas do século XX. Ele participou de sindicatos, partidos políticos, clubes recreativos e contribuiu para vários jornais negros até o final de 1930. Frederico coordenou, produziu e editou jornais, e também – ao lado de ativistas mais jovens – organizou uma coalizão de sociedades de negros brasileiros. Antes da formação da Frente Negra Brasileira (1931), ele buscou meios democráticos de reunir associações negras divergentes para criar a "união da raça". Frederico defendeu o "levantamento", ou em inglês uplifting, durante uma época em que a grande imprensa posicionava Booker T. Washington como um exemplo de que o legado da escravidão não impedia o avanço social dos negros brasileiros. É verdade que, em comparação com a mãe que foi uma mulher escravizada, o trabalho de Frederico rendeu sucesso econômico, ainda que modesto. No entanto, sua história de vida mostra como os brasileiros negros cada vez mais reconheceram que seguir o exemplo de Booker T. Washington era insuficiente para progredir social e economicamente. A elite brasileira retratou Booker T. Washington como o "grande líder negro", mas Frederico afirmou que, apesar da igualdade legal, os negros brasileiros não gozavam de justiça social. Não foi a incapacidade – como alegavam os eugenistas – que levou à desvantagem social dos negros, mas foi a consequência da cidadania não compensada que acompanhou a abolição. O afastamento de Frederico do liberalismo de Booker T. Washington e do hiper nacionalismo da Frente Negra Brasileira evidencia a natureza pluralista e dinâmica do ativismo negro brasileiro no século XX. Por fim, ao traçar a trajetória de vida de Frederico, ilustro como as ideias de combate ao racismo evoluíram ao longo do tempo. Argumento que decifrar a experiência dele é fundamental para compreender o movimento negro brasileiro. Isso porque sua história mostra como as conexões com outras partes da diáspora negra foram reinventadas e apropriadas de acordo com as necessidades locais na luta contra o preconceito
Ver menos
Abstract: In my dissertation I demonstrate the changes and continuities of São Paulo’s early Black movement through the life of Frederico Baptista de Souza (1875-1960). While Souza is mentioned in previous studies, this is the first work written entirely about him. These prior works reduced his...
Ver mais
Abstract: In my dissertation I demonstrate the changes and continuities of São Paulo’s early Black movement through the life of Frederico Baptista de Souza (1875-1960). While Souza is mentioned in previous studies, this is the first work written entirely about him. These prior works reduced his trajectory to his activism in racial social clubs, and in the Black press, between 1916 and 1924. By expanding upon this limited perspective, my work brings unprecedented contributions to our understanding of Brazilian Black mobilization; it does so by offering a new perspective on the movement’s timeline and conceptual underpinnings. Through explicating Souza’s activism, I show that the Black Brazilian movement was not an isolated post-abolition phenomenon, as it drew directly from the liberal Catholicism of nineteenth century abolitionists. Building upon this foundation, Souza and other "men of color" formed the Kosmos Guild, an organization exclusively for Black Brazilians – a fact that illustrates acute racial tensions between this group and European immigrants. Souza was the primary leader of this guild from its foundation in 1908 until its last activities in 1932. Additionally, I advance existing scholarship by showing that the activism of subjects like Souza did not end in the first decades of the twentieth century. He participated in unions, political parties, recreational clubs, and contributed to several Black papers until the end of 1930. He not only coordinated, produced, and edited newspapers, but he also – alongside younger activists – organized a united coalition of Black Brazilians. Prior to the formation of the Brazilian Black Front (1931), Souza sought a democratic means of bringing together divergent Black associations to create a "race united." He consistently advocated for Black self-determination during a time when the mainstream press positioned Booker T. Washington as a validating example that slavery’s legacy did not impede the social advancement of Black Brazilians. It is true that, compared to his mother who was an enslaved woman, Souza’s hard work yielded (modest) economic success. However, his life story shows how Black Brazilians increasingly recognized that following Washington’s example was insufficient to progress socially and economically. The Brazilian elite portrayed Washington as the "great Black leader," but Souza asserted that, despite legal equality, Black Brazilians did not enjoy social justice. It was not incapacity – as eugenicists alleged – that led to Black people’s social disadvantage, but rather it was the consequence of the uncompensated citizenship that accompanied abolition. Souza’s departure from both Washington’s liberalism and the Black Brazilian Front’s hyper-nationalism evidences the pluralistic, dynamic nature of Brazilian Black activism in the twentieth century. Ultimately, through tracing the trajectory of Souza’s life, I illustrate how ideas about combating racism evolved over time. I argue that understanding Souza's experience is critical to comprehending the larger Black Brazilian movement. This is because his story embodied how connections with other parts of the Black diaspora were reinvented and reappropriated according to local needs in the fight against prejudice
Ver menos
Reginaldo, Lucilene, 1967-
Orientador
Domingues da Silva, Daniel Barros
Coorientador
Silva, Mário Augusto Medeiros da, 1982-
Avaliador
Butler, Kim Diane
Avaliador
Albuquerque, Wlamyra Ribeiro de
Avaliador
União da raça [recurso eletrônico] : Frederico Baptista de Souza e a militância negra paulista no Brasil pós-abolição (1875-1960)
Lívia Maria Tiéde
União da raça [recurso eletrônico] : Frederico Baptista de Souza e a militância negra paulista no Brasil pós-abolição (1875-1960)
Lívia Maria Tiéde