Resumo: O bruxismo é definido como uma atividade repetitiva dos músculos mastigatórios que ocorre em duas manifestações circadianas: durante o sono (bruxismo do sono, BS) e durante a vigília (bruxismo de vigília). Sua etiologia é considerada complexa e multifatorial e sua prevalência ainda é incerta. As consequências do bruxismo impactam diretamente a qualidade de vida dos portadores, e o controle dessas tem sido amplamente estudado. Uma das terapias mais utilizadas é a inserção de aparelhos oclusais, considerada como tratamento reversível e não invasivo, utilizada principalmente para proteger a dentição. No entanto, o efeito na mastigação de indivíduos com bruxismo não está bem estabelecido. Assim, este estudo tem como objetivo apresentar uma revisão sistemática para responder à questão: "O aparelho oclusal influencia a função mastigatória de indivíduos dentados com bruxismo?". Para tanto, esta revisão foi registrada no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO – CRD42021276758), e seguiu as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA). A busca na literatura incluiu seis bases de dados principais (Pubmed, Lilacs, Cochrane, Embase, Scopus e Web of Science), literatura cinza e busca manual para seleção dos artigos até dezembro de 2021. Ensaios clínicos randomizados (RCTs) e não randomizados (N-RCTs) foram incluídos comparando a função mastigatória, em termos de performance mastigatória, força máxima de mordida, força máxima de língua, atividade e volume muscular) de indivíduos dentados com BS que receberam aparelhos oclusais com aqueles que não receberam tal terapia. O risco de viés dos estudos incluídos foi avaliado com a ferramenta Cochrane de avaliação de risco de viés em estudos randomizados (ROB 2.0) e para estudos não randomizados (ROBINS-I). A certeza da evidência foi determinada pelo The Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Doze artigos foram incluídos nesta revisão, dentre os quais o risco de viés foi considerado baixo para quatro estudos, moderado para outros quatro, e grave para os demais estudos. A análise dos dados quantitativos foi realizada por meio da avaliação da atividade muscular e força máxima de mordida sob diferentes metodologias e períodos de avaliação. Meta-análises revelaram que aparelhos oclusais rígidos (SMD -0,199, CI -0,489 a 0,091, p = 0,178, I2 = 65%) e macios (SMD -0,148, CI -0,395 a 0,099, p = 0,241, I2 = 43%) não influenciaram a atividade muscular de indivíduos com BS. O mesmo foi observado para força máxima de mordida (aparelho oclusal rígidos: SMD -0,08, CI -1,308 a 1,147, p = 0,898, I2 = 81%; aparelho oclusal macio: SMD -16,016, CI -47,226 a 15,195, p = 0,315, I2 = 97%). No entanto, a certeza da evidência para a atividade muscular com aparelhos rígidos e para a força máxima de mordida com aparelhos rígidos e macios foi considerada muito baixa. Em adição, a certeza da evidência foi considerada baixa para a avaliação da atividade muscular com aparelhos oclusais macios. A análise qualitativa demonstrou que os aparelhos oclusais não influenciaram a performance mastigatória e o volume muscular. No entanto, os aparelhos rígidos reduziram a força máxima da língua. Dessa forma, as análises qualitativa e quantitativa revelaram que os aparelhos oclusais não afetam a função mastigatória de pacientes com BS. Não obstante, os resultados devem ser interpretados com cautela, devido à baixa e muito baixa certeza das evidências Ver menos

Abstract: Bruxism is defined as a repetitive activity of masticatory muscles occurring in two circadian manifestations: during sleep (sleep bruxism, SB) and another during wakefulness (awake bruxism). Its etiology is considered complex and multifactorial, and its prevalence is still quite uncertain. However, its consequences directly impact the quality of life of patients with this condition, and it is necessary to manage them correctly. Bruxism management has been widely studied, being the oral appliance insertion a reversible and non-invasive therapy mostly used to protect the dentition from its damage. However, its effect on chewing of individuals with bruxism is not well established. This systematic review aimed to answer the focused question: "Does occlusal appliance influence masticatory function of dentate individuals with bruxism?". This review was registered in the International Prospective Register of Systematic Review (PROSPERO – CRD42021276758) and followed the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) guidelines. Literature search included six main databases, literature gray, and manual search for article selection until December 2021, without language, publication time, and follow-up limitation. Randomized (RCTs) and non-randomized (N-RCTs) clinical trials were included comparing the masticatory function (through masticatory performance, maximum bite force, maximum tongue force, muscle activity and volume) of dentate individuals with SB who received occlusal appliances with those individuals who did not receive such therapy. Risk of bias was assessed with ROB 2.0 and ROBINS-I. The certainty of evidence was evaluated by using Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE) approach. After full text reading, 12 studies were included in this review of which, the risk of bias was considered low (four), moderate (four), or serious (four). Quantitative data analysis was performed evaluating muscle activity and maximum bite force under different methodologies and evaluation times. Meta-analyses revealed that occlusal appliances did not influence muscle activity with hard (SMD -0.199, CI -0.489 to 0.091, p=0.178, I2=65%) and soft occlusal appliances (SMD -0.148, CI -0.395 to 0.099, p=0.241, I2=43%) and maximum bite force with hard (SMD -0.08, CI -1.308 to 1.147, p=0.898, I2=81%) and soft occlusal appliances (SMD -16.016, CI -47.226 to 15.195, p=0.315, I2=97%) of individuals with SB. Nonetheless, the certainty of evidence was considered very low for muscle activity with hard appliances and maximum bite force with hard and soft occlusal appliances. On the other hand, the certainty of evidence was considered low for the assessment of muscle activity with soft occlusal appliances. The qualitative analysis shows that occlusal appliances did not influence masticatory performance and muscle volume. However, hard occlusal appliances seem to reduce maximum tongue force. Therefore, the qualitative and quantitative analysis revealed that occlusal appliances do not affect masticatory function. However, the results must be interpreted carefully, due to the low and very low certainty of evidence Ver menos