Resumo: A tese busca compreender a formação socioespacial brasileira a partir do processo de urbanização que, sob os ditames dos interesses corporativos corroborados pelo Estado, impõe uma segregação socioespacial interseccionalizada, posto que esta se constitui mantendo o enovelamento das desigualdades de gênero-raça-classe que reproduz e diversifica as enormes periferias urbanas que perpassam toda a cidade. Assim, analisamos a urbanização corporativa e interseccionalizada a partir da periferização, seu avesso. Entende-se as periferias urbanas como formas-conteúdo da modernização seletiva do espaço urbano, fruto da racionalidade capitalista, que constitui pontos luminosos em meio aos grandes espaços opacos que acumulam menores densidades técnica-científica-informacionais. Realizamos essa análise especialmente a partir da cidade de Ribeirão Preto/SP. Foi possível constatar que as diversas periferias urbanas se mantêm no território também enquanto contra-racionalidades, não só reproduzindo os rumos da urbanização, mas disputando-os. Dentre suas formas-conteúdo, destacamos as ocupações de terras urbanas nas quais se constituem lugares que vão além da construção de moradias, pois implantam parcelas de cidades. Para aprofundar a análise selecionamos duas comunidades: Cidade Locomotiva, em Ribeirão Preto/SP, e Menino Chorão, em Campinas/SP. A formação e permanência dessas ocupações urbanas se dá por meio do acúmulo de saberes, conhecimentos e tecnologias da sobrevivência que edificam uma racionalidade alternativa, potencialmente em formação, no cotidiano e na luta pelo lugar. Os novos usos dados aos objetos, única maneira de construir esses lugares, reproduzem e questionam as formas sociais por meio da organização das pessoas para implantar sistemas técnicos necessários à reprodução da vida. Trata-se, portanto, de ver a tessitura social a partir do lugar. Para desvelar essas potencialidades, nos atentamos às líderes mulheres das ocupações urbanas estudadas e propusemos uma cartografia da luta pelo lugar que permite espacializar os eventos geográficos que narram a formação desses territórios, logo, seus conflitos, dentre os quais enfatizou-se aqueles ao redor da interseccionalidade dos marcadores sociais das diferenças. Buscamos, assim, apreender a riqueza e a diversidade das periferias urbanas que gestam o período popular da história Ver menos

Abstract: The thesis seeks to understand Brazilian socio-spatial formation from the process of urbanization which, under the dictates of corporate interests corroborated by the State, imposes an intersectionalized socio-spatial segregation, since it is constituted by maintaining the overlap of gender, race and class inequalities that reproduce and diversify the enormous urban peripheries that permeate the entire city. In this manner, the text analyzes corporate and intersectionalized urbanization from the periphery, its reverse. Urban peripheries are understood as content-forms of the selective modernization of urban space, a result of the capitalist rationality, which constitutes luminous points amid vast opaque spaces that accumulate lower technical, scientific and informational densities. The analysis was carried out mainly from the city of Ribeirão Preto/SP. It was possible to ascertain that various urban peripheries remain in the territory also as counter-rationalities, not merely reproducing the paths of urbanization, but disputing them. Among its content-forms, this study highlights urban land occupations in which places that go beyond the construction of houses are constituted, since they set up parcels of cities. To deepen the analysis, two communities were selected: Cidade Locomotiva, in Ribeirão Preto/SP, and Menino Chorão, in Campinas/SP. The formation and permanence of these urban occupations took place through the accumulation of knowledge and survival technologies that build an alternative rationality, potentially in formation, in daily life and in the struggle for the place. The new uses provided to objects, the unique way to build these places, reproduce and challenge social forms through the organization of people to deploy technical systems necessary for the reproduction of life. It is, therefore, a question of observing social structure from the place. In order to unveil these potentialities, this study turned to the women leaders of the urban occupations studied and proposed a cartography of the struggle for the place that allows to spatialize the geographic events that narrate the formation of these territories, that is, their conflicts. Among these conflicts, those surrounding the intersectionality of the social markers of differences were emphasized. This thesis, therefore, aims to grasp the wealth and diversity of the urban peripheries that engenders the popular period of history Ver menos