Orientador: Gildo Girotto Júnior

Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin

Resumo: Este trabalho se insere em um contexto específico, não só pelo Brasil estar sob o governo Bolsonaro, como também por passar por uma crise humanitária com a pandemia de Covid-19. Dentro deste contexto, os conhecimentos científicos sofreram ataques de credibilidade tanto diretamente por...

Resumo: Este trabalho se insere em um contexto específico, não só pelo Brasil estar sob o governo Bolsonaro, como também por passar por uma crise humanitária com a pandemia de Covid-19. Dentro deste contexto, os conhecimentos científicos sofreram ataques de credibilidade tanto diretamente por membros do governo, quanto por parte da população, estimuladas ou não, por tais membros. Considerando estes ataques à credibilidade da ciência, juntamente com a popularização das redes sociais digitais que permitem um compartilhamento massivo de informações sem compromissos com a realidade dos fatos, realizamos uma pesquisa etnográfica na internet para analisar as características dos discursos de desinformação científica e como, a partir de nossa análise, podemos relacionar dificuldades no entendimento de como é o processo de construção do conhecimento científico fazendo uso de referenciais de teorias de ensino e aprendizagem em ciências. Descrevemos o conceito de pós-verdade e como ele se insere em nossa pesquisa, entendendo-o como uma consequência de décadas de ataque à credibilidade da ciência com o aumento do negacionismo científico estimulado por partes da indústria, além do papel da mídia em fomentar uma polarização na qual lados do espectro político são associados a uma ou outra defesa de conhecimentos científicos. Por meio de um acompanhamento etnográfico de oito meses na rede social Twitter em uma comunidade de apoiadores do governo Bolsonaro, encontramos características que se relacionam com a ideia da existência de uma ciência não-ideológica e que busca por verdades absolutas; uma busca individualizada por verdades científicas; entendimentos errôneos de como se dá a validação de um conhecimento científico e concepções errôneas sobre conhecimentos científicos gerais, relacionados principalmente à pandemia de Covid-19. Por meio de nossos referenciais, compreendemos que essas características podem ser entendidas como uma rejeição ativa do conhecimento científico validado por instituições e buscas por verdades próprias que não realizam o processo de generalização de conceitos, de compreender o conceito em diferentes contextos. Vemos que há uma valorização do próprio indivíduo, que se entende como apto a ser o próprio cientista da situação e utiliza conhecimentos científicos descontextualizados para explicar situações particulares, ao que chamamos de hiperparticularização dos conceitos científicos. A hiperparticularização dificulta o letramento científico da mesma forma que a e-femeridade o letramento midiático. Entendemos a e-femeridade como uma valorização de conhecimentos vistos nas redes sociais quando são vistos, permitindo que se escolha por ignorar as informações do passado ainda presentes nas mídias digitais. Ao se levar em consideração apenas as informações momentâneas sem a busca pelo pensamento generalizante e contextualizador de conhecimentos, a e-femeridade influencia e alimenta um pensamento hiperparticularizado. Compreender esses processos se torna essencial para pensar em estratégias específicas de combate às desinformações no contexto atual. Entendemos que o assunto é complexo e não há uma resposta binária para o problema, mas defendemos a importância de focar em uma educação que ensine os processos de saber pesquisar sobre diferentes assuntos na internet, pois isso envolve diferentes habilidades que se relacionam com a compreensão da construção do conhecimento científico

Abstract: This work is inserted in a specific context, not only because Brazil is under the Bolsonaro government, but also because it is going through a humanitarian crisis with the Covid-19 pandemic. Within this context, scientific knowledge suffered credibility attacks both directly by members of...

Abstract: This work is inserted in a specific context, not only because Brazil is under the Bolsonaro government, but also because it is going through a humanitarian crisis with the Covid-19 pandemic. Within this context, scientific knowledge suffered credibility attacks both directly by members of the government and by part of the population, stimulated or not by such members. Considering these attacks on the credibility of science, together with the popularization of digital social networks that allow a massive sharing of information without compromises with the reality of the facts, we carried out an ethnographic research on the internet to analyze the characteristics of scientific disinformation discourses and how, from our analysis, we can relate difficulties in understanding how the process of construction of scientific knowledge by using references from theories of teaching and learning in science. We describe the concept of post-truth and how it is inserted in our research, understanding as a consequence of decades of attack on the credibility of science with the increase of scientific denialism stimulated by parts of the industry, in addition to the role of the media in fostering a polarization in which sides of the political spectrum are associated with one or another defense of scientific knowledge. Through an eight-month ethnographic follow-up on the social network Twitter in a community of supporters of the Bolsonaro government, we found characteristics that are related to the idea of the existence of a non-ideological science that searches for absolute truths; an individualized search for scientific truths; misconceptions of how scientific knowledge is validated and misconceptions about general scientific knowledge, mainly related to the Covid-19 pandemic. Through our references, we understand that these characteristics can be understood as an active rejection of scientific knowledge validated by institutions and searches for their own truths that do not carry out the process of generalization of concepts, of understanding the concept in different contexts. We see that there is an appreciation of the individual himself, who understands himself as capable of being the scientist of the situation and uses decontextualized scientific knowledge to explain particular situations, which we call the hyper-particularization of scientific concepts. Hyper-particularization hinders scientific literacy in the same way that e-phemerality hinders media literacy. We understand e-phemerity as an appreciation of knowledge seen on social networks when they are seen, allowing one to choose to ignore information from the past present in digital media. By considering only momentary information without the search for generalizing and contextualizing knowledge, e-phemerity influences and feeds a hyper-particularized thought. Understanding these processes becomes essential for thinking about specific strategies to combat disinformation in the current context. We understand that the subject is complex and there is not a binary answer to the problem, but we defend the importance of focusing on an education that teaches the processes of knowing to research on different subjects on the internet, as this involves different skills that are related to the understanding of the construction of scientific knowledge

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